22. ÍDOLO NACIONAL

    Margô e os outros não sabiam – e, àquela altura, com fogo a arder sob os pés, também não se importavam muito. Mas, na superfície, o tempo andava mais rápido e já estava lá na frente. As eleições presidenciais seriam no dia seguinte.
      E Rui Rico tinha 99% das preferências de voto!
    Durante a campanha, o encantamento sobre o eleitorado só aumentou. Onde quer que o homem aparecesse, na TV, no rádio, no YouTube, no palanque ou no barzinho da esquina, a galera delirava!
    - Um, dois, três... quatro, cinco, mil! Queremos Rui Rico presidente do Brasil! – gritava o coro de simpatizantes do candidato, isto é, todo mundo.
    O estranho, porém, é que ninguém se opunha às propostas do sujeito. E olha que elas eram bem polêmicas.
     Queimar todas as árvores da Amazônia; transformar todas as escolas em centros de tortura; derrubar os hospitais e postos de saúde e erguer no lugar fábricas de enxofre; aumentar os impostos em 666%; ferver os rios e cozinhar todos os peixes; furar todos os canos das redes de água e esgoto só porque é legal; mudar o nome de Brasília para Inférnia; acabar com o voto e instaurar a Monarquia Absolutista do Império Tirano do Brasil; determinar por lei irrevogável que “amor” rime exclusivamente com “dor” em todas as canções e poemas; trancar todos os passarinhos em gaiolas apertadas; e, acima de tudo, expulsar do país todos que discordassem de suas ideias. Estas eram algumas das propostas de Rui Rico, amplamente apoiadas pela população, do pobre ao podre de rico.
     - Ele nem ganhou e já é o melhor presidente do Brasil!
     - Quando assumir vai ser o melhor presidente do mundo!
     - De todos os tempos!
     - Viva!
     Era o que se ouvia nas ruas.
    - Pois é... Já era, não tenho a menor chance. O cara é muito bom – comentou consigo mesma a ainda presidente Tina Dupep, que, sozinha no quarto, à meia-luz, já arrumava as malas para ir embora.

***

     No Inferno, Margô, Baldo e Zé sentiam a sola dos pés arder. O único que ainda estava mais ou menos de boa era Rimo, amarrado na altura da cintura dos amigos, longe das chamas. Por enquanto.
     - Isso daqui não tá legal! – desabafou Baldo.
     - Concordo – respondeu Zé.
     - Calma, gente – pediu Margô – Eu tenho um plano.

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