16. RESGATES


     Tosse. Tosse. Tosse.
     E um jato de água suja, acumulada nos pulmões, de repente esguichou da boca de Baldo.
     Mais tosse. Mais ainda. Daquelas de arder a garganta.
     E mais água saiu de dentro do jovem. Que voltava à vida.
     Sentiu dores por todas as partes do corpo. Virou-se e se deitou de costas. Os ossos estalaram. Será que algum deles estava quebrado?
     - Tu não lesionaste nada – respondeu uma voz gutural, que ecoou na mente de Baldo.
De onde ela vinha? Ou seria a própria fala que o rapaz azulado ouvia?
    - Não sejas imbecil. Tua voz não é assim – ouviu Baldo mais uma vez, sentindo um calafrio subir-lhe a espinha.
    Onde estava? De onde vinham aquelas frases negativas, embrulhadas nas mais baixas notas produzidas por cordas vocais humanas? Meu Deus, sequer seriam tais sons humanos? Dúvidas rocambolescas passavam a mil pelo raciocínio já normalmente confuso de Baldo.
     - Por que tu não abres os olhos e resolves teus dilemas? – sugeriu a voz.
    Só então o rapaz atentou-se ao fato de que ainda estava com as pálpebras cerradas. Talvez fosse mesmo um imbecil. Ou estava com medo de encarar o que quer que fosse que iria aparecer.
     Mesmo assim, tomou coragem e abriu os olhos.
    De início, enxergou apenas uma massa escura e turva. Aos poucos, no entanto, a visão foi clareando, modelando as formas, revelando a presença de um ser gigante, de pé, bem à sua frente. Vestia uma túnica surrada, cheia de manchas e marcas de dejetos. Na cabeça, um capuz escondia-lhe o rosto por completo.
     - Olá – disse o ser.
     - Aaaaaahhhhhhhhhh!!! – gritou Baldo a plenos pulmões, agitando as pernas para tentar fugir.
    De repente, o chão balançou três vezes, para lá, para cá, para lá. O gigante apoiou-se como pode para não cair. Já Baldo só não capotou porque já estava deitado.
     - Para com isso!!! Não vês que estamos em uma embarcação??? – gritou o ser.
     Fato. Baldo olhou para os lados e viu que estava a bordo de uma pequena canoa, conduzida por meio de um longo remo pelo próprio gigante. Em seguida, lembrou-se da viagem inesperada pela qual tinha passado escorregando pelos esgotos, até desembocar num rio.
     - Quem é você? Pra onde tá me levando? – perguntou Baldo, com cara de pânico.
    Neste momento, detrás do ombro esquerdo do gigante, surgiu um pássaro negro e rechonchudo muito familiar. O pequeno animal bateu asas e pousou sobre o colo de Baldo, que não se aguentou de alegria.
     - Rimo!!! – festejou nosso amigo azul, abraçando seu bicho de estimação apertado a ponto de os olhos do pássaro quase saltarem das órbitas.
     O gigante, por fim, se apresentou.
     - Meu nome é Caronte, o barqueiro no Inferno. Vamos resgatar teus amigos.

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