10. PRIMEIROS PASSOS


     Zé ajeitou a alça da mochila de acampamento nos ombros, virou-se para trás e quis saber.
     - Tudo pronto?
     Baldo moveu o queixo para baixo e para cima, como quem diz “sim”. Em seu ombro, Rimo não mexeu uma pena. Abriu apenas os olhos enormes e fez cara de mau, como se dissesse “sempre!”
     Há alguns passos dali, Margô beijava a testa de Caliel e afagava-lhe o rosto uma última vez. Abandonara o jaleco de praxe e estava vestida feito a viajante sem amarras que fora na juventude. No bolso esquerdo da calça, já estava guardado um mapa elaborado de última hora, de acordo com descrições do anjo.
     - Vá com Deus, minha protegida – disse Caliel, tentando levantar-se.
   - Descanse e amém! – respondeu rápido a doutora, pressionando o peito do outro, forçando-o a interromper o movimento. Não gostava de estender as despedidas. Batia-lhe um aperto estranho no coração quando isto ocorria.
     As portas do laboratório se abriram e o trio – ou melhor, quarteto, não se esqueçam nunca do pequeno Rimo – deu os primeiros passos rumo a mais uma aventura. O restante da equipe ficaria na base, para dar conta das entregas e da demanda de clientes. Não era a primeira vez que o grupo dividia-se.
     Dentro do casarão, do alto da escadaria, Sorondo torcia sem eficácia o cabo de uma vassoura. Uma gota amarga de agonia crescia-lhe na boca do estômago. Sabia que em breve um conjunto de visões perturbadoras iriam lhe atormentar. Além disso, naturalmente não se sentia bem longe da patroa e velha amiga.
      - Lá vai ela, a caminho do Inferno – pensou alto o mordomo.

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