4. O PEDIDO DESESPERADO

     - O que aconteceu??? – quis logo saber a ruiva.
     Sorondo, contudo, foi mais sensato.
     - Doutora, ele precisa de cuidados.
     Com muito custo, ambos arrastaram o anjo até o chão da cozinha. Um rastro de sangue ficou marcado no trajeto.
     - Chamo um médico? – quis saber o mordomo.
     - Não vai adiantar – respondeu Margô, já mais calma. Ela sabia que os ferimentos de Caliel não seriam curados com os remédios dos homens.
     A doutora, entretanto, não sabia bem o que fazer. Pela ordem natural das coisas, aquele ser machucado que estava deitado aos pés de seu fogão era que teria de tomar conta dela – e não o contrário.
     Lembrou-se de quando Caliel interveio em sua vida pela primeira vez. Margô mal completara cinco anos e era mais ruiva do que nunca quando a corda do balanço no qual brincava se rompeu.
     Era para a futura doutora espatifar o pescoço em uma grande pedra irregular que se erguia do chão, quando o anjo assoprou. A pequena Margô caiu ao lado, ralou-se inteira, mas não teve a vida encurtada.
     - Quem tá aí? – perguntou a ruivinha, na ocasião. Sabia que havia alguém por ali, mesmo sem ser visto.
     Esta é diferente, pensou Caliel. Reparou em mim logo de primeira! Por sorte, o pai de Margô apareceu para socorrê-la e o anjo escapuliu sem que sua energia pudesse ser mais bem notada pela garotinha. 
     No presente, o anjo percebeu que a doutora não sabia bem o que fazer com ele. Assim, arrumou forças não se sabe de onde e foi direto ao assunto.
     - Fui expulso do Céu, Margô. Os arcanjos acham que sou um espião do Inferno – fez uma pausa para tossir, e sangue saiu de sua boca. Ainda assim, completou.
     - Preciso de sua ajuda para provar que não sou nada disso!

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